quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O maldito acordo...

Sim, o maldito acordo... Todos os amantes da língua de Camões sabem do que eu estou a falar... é isso mesmo, do novo acordo ortográfico. E porquê? - perguntam - bem, porque não estava nada à espera da aula de Português (ou Língua Portuguesa como uma ex-professora minha insistia em chamar-lhe) que tive há umas 3 semanas atrás e para ser sincero, já era para ter escrito este artigo há algum tempo, mas faltou-se-me o mesmo... Mas hoje, na aula de Psicologia, quando ao escrever uma resposta dei por mim num conflito interior sobre escrever "objectivamente" ou "objetivamente", tendo, ainda assim, optado pela "forma errada", decidi que não passava de hoje.
Não sei ao certo por onde começar... supostamente seria pelo princípio mas não tenho a certeza de como e quando esta história começou...
Quando ouvi falar deste acordo pela primeira vez e de como ele estava tão bem encaminhado para vigorar daí a um ano ou dois fiquei profundamente indignado (tal como a grande maioria dos "tugas", ou pelo menos dos que eu conheço) e como ignorante na matéria, e tal como todos os ignorantes que tenho ouvido desde aí, expressei o meu sentimento de uma maneira quase xenofóbica dizendo que os brasileiros não seriam nada sem nós e que agora éramos obrigados a falar e escrever como eles sob o fraco argumento de "ser mais fácil"... Andei irritado e mesmo quando entrou em vigor, sempre me recusei a escrever segundo as suas regras ainda que devidamente informado de que tería, eventualmente, de o fazer, até porque a tolerância acabaria enquanto eu estivesse na Faculdade (se tudo corresse como planeado)... Mas a tal aula mudou a minha perspectiva por completo...
Logo numa das primeiras aulas de Português, a professora decidiu dar uma aula inteiramente dedicada ao Novo Acordo Ortográfico, onde não só deu uma perspectiva histórica do mesmo e, mais importante ainda, de outros anteriores a ele, como também ensinou regras que eu nem imaginava... Pois é, "gente que anda pouco informada", ao contrário do que TODA a gente que eu ouvi a dizer mal do novo acordo ortográfico pensa, a palavra "facto" continuará a ser escrita da mesma maneira, sim, "facto" e não "fato", pura e simplesmente porque o "c" nesta palavra é pronunciado, ao contrário de outros, como em "objecção", e esses sim vão desaparecer... Isto para dizer o quê... A professora, ao dar a tal perspectiva histórica, informou que há menos de 100 anos, o nosso alfabeto incluía as letras "k", "w" e "y", letras essas que eu nunca associei ao português até ter a disciplina de Língua Inglesa, no 5º ano, e mesmo assim, nem imaginava (e desconfio que não era o único) que elas apenas tinham "desaparecido" há menos de 100 anos... Sabendo isto, podemos especular que há relativamente pouco tempo as pessoas também ficaram indignadas com uma maneira nova de escrever (mesmo que há 100 anos a escrita não fosse para todos, como o é agora) e acredito que também houve muitas recusas e protestos mal direccionados e sem cabimento, ainda que por razões não xenofóbicas, penso. E isto para chegar onde? - perguntam já com princípios de enxaqueca - Bem, os "antigos" tinham muito mais razões para reclamar do que nós, pois não só "desapareceram" 3 letras do alfabeto, como houve palavras que começaram a ser escritas, não com menos letras, mas com letras diferentes, pois o "c" e o "q" foram substituir o "k", etc e isso fez-me sentir um bocado ridículo... Porque razão é necessário escrever palavras com letras que não se pronunciam quando falamos? - e não, o "h" mudo não vai desaparecer - Bem, de facto, não há argumentos muito fortes a favor disso para além de puro capricho disfarçado de apelo à tradição e de xenofobia camuflada. Porque razão havemos de dificultar a aprendizagem dos pequeninos e até dos imigrantes que, imagino, se questionem porque razão metem o "c" e o "p" atrás do "t" em algumas palavras e em outras não? Provavelmente estão a chegar à mesma conclusão que eu: puro capricho.
Há, de facto, regras deste novo acordo com as quais eu não concordo e algumas que até acho que vão tornar a língua mais difícil, mas teria de voltar à 1ª classe para entender isso melhor. Quanto à perda do "verdadeiro português" e aproximação ao português do Brasil eu tenho a dizer que isso é nada mais do que uma parvoíce que alguém inventou e divulgou para provocar a discórdia... pois não há nada neste acordo que torne a língua portuguesa semelhante à falada naquele que é, de facto, o país onde se fala mais português, e assim dependente daqueles que a falam ali... rigorosamente nada! Antes pelo contrário, a lígua portuguesa está a tornar-se independente do latim, a ficar "mais portuguesa" do que nunca.

PS: Tenho uma nova perspectiva, sim, mas ainda não tenho o cérebro "lavado", perdoem os erros de ortografia ;-)

2 comentários:

TF disse...

João, três ou quatro coisas.
O Novo Acordo Ortográfico tem uma razão política antes de tudo, este Acordo (bom ou mau) tenta colocar a Língua Portuguesa como "utilizável" nas organizações internacionais. Como é que a língua se poderia usar nessas organizações quando não há acordo quanto à escrita (brasileiros, portugueses e africanos escrevem as mesmas palavras de forma diferente). As diferenças quanto ao vocabulário vão-se manter (autocarro/onibus/machibombo) , mas tenta-se que os diferentes falantes (de diferentes países) escrevam da mesma forma. Ainda que a discussão continue...coloca-se o pronome antes (como fazem os brasileiros) ou depois (como fazemos nós)?
Um dos meus professores de linguística diz que o Acordo é mau, que podia ser melhor, se ele o diz, quem sou eu para o desdizer?
Por outro lado, o K, w e Y continuam por respeito a países africanos, explico, muitos dos topónimos africanos teem estas três letras, não faria sentido retirá-las.
Por conseguinte, a ortografia é uma norma, que não altera a forma como dizemos as palavras, não é por escrevermos ação ou ato que falaremos com sotaque brasileiro. Antes de 1941, escrevíamos pharmácia, hoje farmácia. Um dos problemas é a proliferação de mitos urbanos. Dizia-me um amigo meu, uso o teu exemplo e foi o que ele usou, eu iria continuar a escrever facto, ora se o c se pronuncia, deve escrevê-lo mesmo! Depois há a questão da dupla forma, há palavras que pronunciamos de forma diferente dos brasileiros. Escreveremos exceção, porque não pronunciamos o p, mas eles escreverão excepção, porque o leem.
Costumamos dizer que a utilização de para (anulando a diferença gráfica entre pára e para) nos confundirá, obviamente que teremos de ter atenção ao contexto, mas não costumamos confundir o utensílio com que comemos a sopa e o verbo colher, ainda que se escrevam da mesma forma.
Um exemplo engraçado que o meu professor deu foi este, queixamo-nos do acordo e dizemos que o português é nosso, que nós é que vamos alterar a nossa forma de escrever e os brasileiros nada, engraçado, do outro lado do oceano as queixas são idênticas.
A utilização dos h ou vogais mudas não é um capricho, é uma marca da evolução da língua, da palavra. Ora, este acordo coloca-nos a escrever como falamos, dando menos importância à história de cada palvra.
Abraço

Anónimo disse...

ainda não estou convencida. e não penso que seja capricho ou xenofobia... fico é com pena de estarmos a mexer com a estética da língua. tenho dito.